Maiores bancos do mundo investem nove vezes mais em combustíveis fósseis do que em energias renováveis

05 novembro 2015

Há um mês da Conferência Mundial do Clima, estudo de coalizão internacional da qual Idec faz parte, aponta que setor financeiro aposta pouco em fontes alternativas de energia

Nos últimos cinco anos, os 25 maiores bancos privados do mundo destinaram pelo menos US$ 931 bilhões a companhias ou negócios em combustíveis fósseis, montante que corresponde a 90,5% do total de investimentos dessas instituições. No mesmo período, o financiamento voltado a energias renováveis totalizou US$ 98 milhões, ou 9,5% do total.

É o que revela o estudo internacional lançado hoje (5/11) pelo Fair Finance Guide e pelo BankTrack, coalizão internacional da qual o Idec faz parte com o projeto Guia dos Bancos Responsáveis.

O relatório, intitulado Minando Nosso Futuro, foi publicado simultaneamente nos sete países da coalizão (Bélgica, Brasil, França, Holanda, Indonésia, Japão e Suécia).

O lançamento do relatório ocorre a menos de um mês antes da Conferência do Clima da ONU, em Paris, a COP. “Ele traz um resultado preocupante, pois mostra a prioridade que vem sendo dada a fontes de energia ‘sujas’ em detrimento de fontes limpas desde 2009, ano da Conferência do Clima em Copenhague”, ressalta Carlos Thadeu de Olveira, gerente técnico do Idec.

Até o final de 2014, a cada US$ 1 destinado a energia renovável pelos bancos, foram fornecidos mais de US$ 9 a combustíveis fósseis.

Para chegar a esses dados, foram investigadas as operações de 75 instituições financeiras com cerca 178 empresas e pesquisados mais de 540 projetos de energia renovável entre 2009 e 2014. Os números foram retirados de bases de dados financeiros – Thomson e Bloomberg –, incluindo plataformas específicas, como a Bloomberg New Energy Finance.

Embora os dados de investimentos sejam informações públicas, seu baixo nível de transparência deixa entrever que os valores reais devem ser ainda maiores que os apontados no estudo.

Campões de fontes sujas

O relatório aponta que três bancos americanos – Citi, JPMorgan Chase e Bank of America – são os maiores financiadores de combustíveis fósseis. Entre 2009 e 2014, Citi e JPMorgan forneceram US$ 76 bilhões cada a empresas ativas em combustíveis fósseis e apenas US$ 6,5 bilhões e US$ 4,4 bilhões, respectivamente, à energia renovável.

O Bank of America forneceu mais de US$ 62,7 bilhões a companhias de combustíveis fósseis e apenas US$ 5,4 bilhões à energia renovável.

Dentre as 25 maiores instituições em volume de investimentos, apenas duas operam no Brasil: HSBC e Santander. O primeiro ocupa a 10ª posição no ranking e, nos últimos cinco anos, diminuiu em 6% seus investimentos em energia fóssil, ainda que esses representem 89% do total investido; já o banco de origem espanhola está na 22ª posição, tendo aumentado em 3% seus investimentos em energia fóssil, apesar desses já representarem 64% do total da instituição.

O gerente técnico do Idec destaca que os bancos têm um papel crucial na economia e a responsabilidade de promover uma economia menos intensiva em carbono. “O estudo mostra em números que as intenções ou declarações dos bancos não se traduzem em compromissos claros”, ressalva Oliveira.

Confira aqui a versão em português do estudo Minando Nosso Futuro.

Sobre o GBR

O Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), projeto desenvolvido pela coalizão brasileira do Fair Finance Guide, é uma iniciativa do Idec com apoio da Oxfam Novib e da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (Sida).

Para saber mais sobre o projeto, acesse: http://guiadosbancosresponsaveis.org.br