Votorantim negocia joint venture para investir em energia limpa no Brasil, dizem fontes
A unidade de energia do grupo Votorantim está em conversas com grandes fundos de pensão e fundos soberanos para criar uma joint venture integrada para investimentos em energia eólica, solar e pequenas hidrelétricas, disseram à Reuters duas fontes com conhecimento direto do assunto.
A Votorantim Energia está em negociações com a Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) sobre a criação dessa plataforma integrada de energia limpa, disseram as fontes. Outros agentes sondados para o negócio incluem o fundo soberano de Cingapura, GIC, e diversos outros fundos de pensão da América do Norte, disse uma das fontes.
A Votorantim Energia opera mais de 2,5 gigawatts em usinas hidrelétricas e em plantas de cogeração, além de estar na fase final das obras de um complexo eólico de cerca de 200 megawatts no Piauí. Segundo uma das fontes, a Votorantim já possui a opção de compra de um segundo complexo eólico no Piauí, próximo ao primeiro parque, com 360 megawatts e já em operação, que poderia ser incorporado à joint venture quando esta for criada.
O negócio para a aquisição do complexo, que foi construído pela desenvolvedora Casa dos Ventos, poderia ser fechado pela Votorantim até dezembro, disse a fonte, que falou sob a condição de anonimato.
Já os investimentos do veículo a ser criado pela Votorantim Energia deverão focar o desenvolvimento de projetos de seu portfólio e de novos empreendimentos a partir do zero, disse uma segunda fonte, destacando que aquisições ou participação em leilões do governo federal não serão uma prioridade.
Nenhuma das fontes quis comentar o tamanho ou o valor estimado da joint venture, cujo lançamento, segundo elas, não é iminente.
Procurada, a Votorantim disse por meio da assessoria de imprensa que não iria comentar. O CPPIB, em Toronto, também não quis comentar. A assessoria de imprensa do GIC em Cingapura não respondeu pedidos de comentários. A Casa dos Ventos também não comentou.
Maior grupo industrial diversificado do Brasil, a Votorantim tem investido em energia para diversificar suas atividades – que passam por metais, cimento, celulose e produção de aço – além de garantir acesso a eletricidade a preços mais competitivos. Investimentos em geração renovável também são vistos como uma fonte de receita estável no longo prazo, o que atrai o interesse de fundos de pensão e fundos soberanos ao redor do mundo.
Setor aquecido. O movimento do grupo Votorantim e suas negociações com os canadenses do CPPIB e outros fundos também evidenciam o crescente interesse estrangeiro na indústria de energia limpa e renovável do Brasil, à medida que o governo tenta impulsionar a contratação de usinas eólicas e solares e deixa de lado uma política que nos últimos anos priorizou grandes hidrelétricas.
"Certamente, parece surgir uma oportunidade de longo prazo para um veículo como esse devido às condições atuais (do mercado brasileiro de energia) e à mudança de política em curso", disse uma das fontes.
Entre as transações recentes no setor de renováveis estão a negociação da canadense Brookfield para aquisição da Renova Energia junto às controladoras Cemig e Light, bem como a compra de ativos da Renova por outras empresas controladas por estrangeiros, como a AES Tietê, da norte-americana AES, e a Engie Brasil Energia, da francesa Engie.
A Votorantim investe em usinas próprias desde o início de sua história, tendo criado em 1996 a Votorantim Energia. O grupo chegou a ser um dos principais acionistas da CPFL Energia, uma das maiores elétricas do país, mas deixou o negócio em 2009.
Atualmente, a Votorantim Energia opera 33 hidrelétricas e 5 termelétricas, além de possuir um portfólio de projetos em desenvolvimento, segundo informações do site da companhia.
A matriz elétrica do Brasil tem como fonte predominante as hidrelétricas, que respondem por mais de 60 por cento da capacidade, mas fontes renováveis têm crescido rapidamente, e as usinas eólicas saíram praticamente do zero para quase 8 por cento da potência instalada do país ao longo da última década.
Fonte: Estadão