Banco de dados revela relação entre exportação de armas e classificações ESG positiva das empresas
A ONG Facing Finance divulgou uma recente atualização do banco de dados "ExitArms", que passou a listar empresas envolvidas na exportação de armas para zonas de guerra no período de 2016 a 2021. O objetivo do banco de dados é fornecer informações para instituições financeiras, formuladores de políticas e sociedade civil, além de incentivar políticas de desinvestimento de empresas de defesa que fornecem armas para conflitos sem mandato das Nações Unidas.
A análise realizada pela Facing Finance revelou uma controversa nas classificações de agências ESG (Ambiental, Social e Governança): a metodologia da maioria das agências (por ex. Bloomberg, S&P Global, MSCI) resulta em classificações mais favoráveis para empresas de armas que exportam para zonas de guerra. Isso significa que, dentro do grupo de exportadores de armas, aquelas que fornecem mais armas para diferentes zonas de guerra recebem as melhores classificações ESG. Essa descoberta aponta que as agências têm por escopo apenas os riscos financeiros e a sustentabilidade financeira das empresas, sem considerar de fato seus impactos sociais e ambientais.
As principais descobertas revelaram que várias empresas de defesa de países industrializados fornecem armas para partes em conflito em todo o mundo. A Rostec, da Rússia, lidera as entregas de armas para 23 estados beligerantes, seguida por empresas ocidentais como Leonardo, Airbus, Raytheon, Lockheed Martin, Thales e BAE Systems. A maioria das empresas que fornecem armas para zonas de guerra está sediada nos Estados Unidos, Rússia, Alemanha, França, China, Turquia e Reino Unido.
A atualização do banco de dados também traz exemplos de empresas brasileiras relacionadas a entregas de armas para conflitos na Nigéria, Mali, Indonésia, Emirados Árabes e Paquistão. Nesse sentido, figuram na base de dados do projeto ExitArms empresas como a Novaer, Avibras Aeroespacial, Embraer e SIATT, além de subsidiárias brasileiras de corporações estrangeiras como a Helibras e Saab Aeronáutica Montagens.
Luca Schiewe, coordenador do projeto ExitArms, alerta: “Muitos investidores desconhecem essas informações sobre as agências de classificação ESG. Esse mal-entendido frequentemente causa confusão e favorecimento ao greenwashing”.
O banco de dados ExitArms é fundamental para pressionar agentes financeiros que apoiam empresas de defesa envolvidas com conflitos armados. Ao mesmo tempo, são fundamentais para garantir maior transparência frente à sociedade civil. Esses dados reforçam a necessidade de instituições financeiras adotarem políticas socioambientais compromissadas, conforme as recomendações específicas do projeto Guia dos Bancos Responsáveis voltadas ao setor de armas, que, por sua vez, visam assegurar a paz e a proteção aos Direitos Humanos.
Mais informações sobre a atualização podem ser acessadas em https://exitarms.org/node/38843