Bancos têm desempenho fraco em responsabilidade socioambiental, mostrou o GBR 2016
Guia dos Bancos Responsáveis 2016 aponta que as diretrizes dos bancos ainda são insatisfatórias na maioria dos temas avaliados, inclusive em direitos do consumidor - avaliado pela primeira vez com a mesma metodologia
O Idec lançou ontem (14/12) uma nova edição do Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), estudo que avalia as políticas socioambientais de crédito e de investimento declaradas por sete bancos: Bradesco, BTG Pactual, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú e Santander.
Essas instituições são as sete maiores em ativos e, juntas, respondem por 80% dos depósitos e créditos em âmbito nacional, segundo dados do Banco Central.
O GBR é a versão brasileira do Fair Finance Guide International (FFGI), projeto coordenado pela organização holandesa Oxfam Novib e realizado por mais seis países: Bélgica, França, Holanda, Indonésia, Japão e Suécia.
Ele consiste na avaliação de documentos públicos das próprias instituições financeiras (sites, relatórios anuais, compromissos e tratados setoriais), nacionais e internacionais, em 14 temas: Direitos Humanos; Direitos Trabalhistas; Impostos e Corrupção; Meio Ambiente; Mudanças Climáticas; Alimentos; Armas; Florestas; Geração de Energia; Mineração; Óleo e Gás; Setor Financeiro; Remuneração e Transparência e Prestação de Contas.
Como na edição anterior, no GBR 2016 os bancos se saem melhor nos temas em que a legislação brasileira é mais rigorosa, como Meio Ambiente e Direitos Trabalhistas, atingindo notas médias acima de 6, na escala de 0 a 10. Em seguida, vem o tema Direitos Humanos, com média 4,5.
Por outro lado, há diversos temas setoriais em que o desempenho é muito ruim, mesmo diante de sua relevância para o contexto nacional ou internacional. É o caso Florestas, Óleo e Gás, Geração de Energia e Mineração, por exemplo, cujas médias atingem no máximo 3.
Os resultados completos da avaliação podem ser consultados na página do Guia dos Bancos Responsáveis.
BTG Pactual: mau exemplo
Avaliado pela primeira vez no GBR, o banco de investimento BTG Pactual se destaca individualmente como exemplo negativo entre as sete instituições. O banco obteve nota zero em 11 dos 14 temas avaliados - a nota máxima que conquistou foi um reles 1,6, atribuído às suas políticas de remuneração. Assim, a média final do banco foi apenas 0,2.
O péssimo desempenho do BTG puxou para baixo a média dos demais bancos, inclusive. Em alguns temas, as outras seis instituições tiveram nota ligeiramente melhor do que no ano passado, mas a média não subiu por culpa das notas zero do retardatário.
“O BTG destoa dos demais bancos avaliados porque não publica nenhum compromisso em relação aos critérios socioambientais de concessão de crédito e investimentos. Quem não possui políticas e diretrizes claras, provavelmente não tem práticas transparentes. Embora menor que as demais instituições avaliadas, ele ocupa uma posição de destaque no mercado e deveria se balizar em bons exemplos para contribuir com um sistema financeiro mais justo e sustentável”, opina Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Idec.
O BTG ganhou espaço no noticiário policial e político do país desde que seu co-fundador e ex-controlador André Esteves foi preso, no fim de novembro, acusado de obstruir as investigações da operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Direitos do consumidor: muito a melhorar
Outra novidade do GBR 2016 é a inserção do tema Direitos do Consumidor sob a mesma estrutura metodológica, embora a nota ainda seja separada dos demais temas. Os resultados deixam evidente a necessidade das instituições detalharem seus compromissos com os clientes em políticas e procedimentos.
A análise contemplou os seguintes itens em direitos do consumidor: transparência sobre serviços, cobranças e riscos; combate ao superendividamento; qualidade do serviço; tratamento não discriminatório e gestão das reclamações.
Todos os bancos tiveram nota abaixo de 5 - o melhor desempenho foi do Banco do Brasil, com nota 4,8, e o pior do BTG Pactual, com 3,3. “Os bancos se saíram muito mal em relação a um conjunto de regras que já deveriam estar amplamente institucionalizadas e refletidas nas políticas expressas das instituições. O Código de Defesa do Consumidor completará 25 anos de vigência em 2016”, destaca o gerente técnico do Idec.
Oliveira explica que essa análise diz respeito exclusivamente às políticas declaradas pelas instituições financeiras relativas aos direitos do consumidor. “Esses resultados são anualmente complementados com os estudos de práticas já conduzidos pelo Idec há vários anos, publicados no site e na revista do instituto, bem como na própria página do GBR”, informa.