Bancos precisam aperfeiçoar instrumentos para avaliar o risco socioambiental do crédito ao setor agropecuário
Pesquisa identifica que os maiores bancos emprestaram cerca de R$ 200 bi ao setor, mas ainda deixam de considerar riscos socioambientais específicos destas atividades
Nesta segunda-feira (16), o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lança o estudo “Os bancos colhem o que plantam? – Questões socioambientais no financiamento ao setor agropecuário”. A publicação, que faz parte do projeto Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), traz uma avaliação de como os bancos brasileiros aplicam critérios socioambientais ao conceder crédito para empresas e projetos agropecuários. Foram avaliados os cinco bancos comerciais que têm maior exposição da carteira de crédito ao setor: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander.
As cinco instituições declaram avaliar e monitorar empréstimos concedidos em questões sociais e ambientais e divulgam algumas práticas e políticas para concessão de crédito. O estudo, no entanto, também identificou que, apesar dos bancos terem emprestado cerca de R$ 200 bi ao setor agrícola em 2015, ainda existem poucos sistemas e recursos para garantir que projetos que não cumpram com boas práticas socioambientais não sejam financiados.
A pesquisa também teve um foco em três principais commodities – soja, carne e óleo de palma. Apenas Santander e Banco do Brasil apresentaram, em suas políticas, critérios específicos para os riscos socioambientais associados à agricultura, sendo que somente o primeiro considera riscos específicos da produção de óleo de palma e soja. Com relação à transparência, somente o BB detalha o total de crédito concedido aos segmentos de óleo de palma e carne.
Esses dois bancos tiveram os melhores resultados da análise, que pontuou as instituições em uma escala de 0 a 10. O Banco do Brasil, responsável pelo maior montante financiado às atividades agropecuárias em 2015, atingiu o resultado de 4,77, ocupando a segunda posição na análise atrás do Santander (5,07), que obteve o melhor desempenho por seus sistemas de avaliação socioambiental nas operações de crédito. Itaú (4,16), Caixa (3,25) e Bradesco (2,71) completam o ranking.
“O Brasil está entre os maiores produtores de commodities agropecuárias, sendo que temos a maior produção de soja e a segunda maior de carne bovina. Portanto, espera-se que, ao investir nestes segmentos, os bancos fiquem atentos a questões que impactam o consumidor diretamente, como os agrotóxicos que chegam à mesa, ou indiretamente, como o desmatamento associado a essas atividades.”, afirma Elici Bueno, coordenadora executiva do Idec.
De acordo com o relatório, os bancos abordam questões de trabalho escravo, infantil e violação de direitos humanos na avaliação socioambiental dos projetos que financiam, mas falta clareza quanto aos métodos utilizados para monitorar e negar empréstimos a empresas que violam esses direitos. Ainda como recomendação, o estudo sugere que as instituições aumentem a transparência sobre o total financiado às principais commodities de suas carteiras e sobre os instrumentos de análise socioambiental dos projetos, além de incluir nas políticas de investimento aspectos específicos para o setor agrícola, como a questão hídrica e de bem-estar animal.
Sobre o projeto
O Guia dos Bancos Responsáveis é uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) com o apoio da Oxfam Novib e com atual suporte financeiro da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (SIDA). A iniciativa faz parte da Fair Finance Guide International, uma rede internacional de organizações da sociedade civil, que envolve nove países e visa o fortalecimento do compromisso das instituições financeiras com temas sociais e ambientais.
A pesquisa foi encomendada pela Fair Finance Guide International à Solaron, empresa especializada em pesquisa de questões sociais, ambientais e de governança, e contou com contribuições da equipe do Guia dos Bancos Responsáveis.