Bancos brasileiros e internacionais estão financiando o desmatamento da Amazônia e do Cerrado
Com a aproximação da COP 26, é urgente expor a atuação de instituições financeiras e empresas que contribuem para o agravamento das mudanças climáticas.
Crédito: iStock
Os sete maiores bancos da Suécia investem e financiam 27 das 61 empresas de alto risco socioambiental que produzem, usam e vendem carne bovina e soja, que são os principais motores do desmatamento, em especial, em regiões da Amazônia e do Cerrado no Brasil. Este diagnóstico faz parte do relatório Forests on Fire.
Realizado pela Fair Finance Suécia, o estudo traz informações de impacto sobre o Brasil e aponta que as instituições financeiras internacionais estão agravando as mudanças climáticas na região, por cometerem abusos e violações dos direitos humanos, que levam à perda de biodiversidade e riscos para a saúde pública.
Nos últimos cinco anos, os bancos Nordea, Danske Bank, SEB, Handelsbanken, Swedbank, Länsförsäkringar e Skandia investiram o equivalente a R$ 6 bilhões nessas empresas e realizaram um total de aproximadamente R$ 1,5 bilhões em empréstimos. Entre as empresas relacionadas estão as multinacionais de soja Archer Daniels Midland, Cargill e Bunge e o Carrefour, que vende carne da Amazônia.
Com a proximidade da COP 26, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, o Fair Finance Internacional (que integra a coalizão da Suécia e também do Brasil, pelo Guia dos Bancos Responsáveis, no Brasil) assinou uma carta em defesa da responsabilidade ambiental dos bancos direcionada à Mark Carney, representante especial para ação climática e finanças no evento.
"O mundo todo ainda caminha a passos lentos em direção à maior pressão de investidores e acionistas sobre as consequências de suas ações no meio ambiente e isso por si só já deveria ser preocupante", afirma Ione Amorim, coordenadora do Guia dos Bancos Responsáveis e do programa de Serviços Financeiros do Idec.
A mais recente avaliação de políticas de responsabilidade socioambiental dos nove maiores bancos do país, realizada a cada dois anos pelo Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), mostrou que as instituições financeiras minimizam o investimento em atividades de impacto socioambiental positivo.
Entre os bancos analisados no Brasil estão Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, BV, Caixa, Itaú, Safra, Santander e BNDES. No estudo do GBR, estes nove bancos pontuaram com uma média de apenas 14% no tema de Mudanças Climáticas.
Neste ano, a Repórter Brasil revelou que bancos brasileiros não ficam para trás em financiamentos e investimentos que contribuem com o desmatamento da Amazônia e Cerrado. Banco do Brasil, Bradesco e Itaú-Unibanco financiam frigoríficos nacionais, com recursos do BNDES, que possuem irregularidades.
De acordo com a reportagem, que utilizou dados de pesquisa da Forests and Finance, as empresas Masterboi, São Franscisco, Ribeiro Soares, Fortefrigo, Mercúrio (Pará) e Carnes Boi Branco (Mato Grosso) são acusadas pelo Ministério Público Federal (MPF) de compra de fazendas desmatadas, utilização de mão de obra escrava, e sobreposição de pasto em unidades de conservação e territórios indígenas.
Esta problemática do financiamento da cadeia produtiva de carne bovina e soja não é uma novidade. Em 2018, um escândalo envolvendo a Marfrig, produtora de proteína animal, e a Caixa Econômica Federal, veio a público. A empresa foi condenada pelo MPF (Ministério Público Federal) após investigação comprovar pagamento de propina para obtenção de licenciamento em troca de empréstimos.