Financiamento de bancos belgas em “aço verde” piora situação de seca no Alto Jequitinhonha-MG

15 setembro 2022

Financiamento de bancos belgas em “aço verde” piora situação de seca no Alto Jequitinhonha-MG

 

 

Em julho deste ano, o Idec  (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), por meio da iniciativa do Guia dos Bancos Responsáveis, divulgou um estudo que mostra como a monocultura de eucalipto, produzida pela siderúrgica Aperam na região do vale do Jequitinhonha, tem afetado a vida das pessoas e o meio ambiente.  Além da perda da biodiversidade, o secamento das fontes de água afeta profundamente as comunidades de agricultores familiares que vivem na região. 

O estudo de caso revelou que as famílias foram expropriadas de seus territórios pelo processo de ocupação da empresa, sendo expostas a uma situação de extrema insegurança hídrica, lidando cotidianamente com a restrição ao direito fundamental ao acesso à água para o consumo doméstico e produtivo. Além disso, a pesquisa identificou que a Aperam é financiada sobretudo por instituições financeiras belgas. 

Diante deste contexto, a rede Fair Finance International, coalizão do Guia dos Bancos Responsáveis (GBR), questionou as instituições financeiras da Bélgica sobre sua responsabilidade na violação de diversos direitos socioambientais no Brasil. A íntegra da nota publicada pelo GBR Bélgica e traduzida pelo GBR Brasil pode ser lida abaixo: 

A siderúrgica Aperam, empresa que até dez anos atrás fazia parte da  ArcelorMittal, promove-se como  pioneira em aço sustentável. Mas esse aço 'verde' tem um lado sombrio: escassez de água em uma região já vulnerável no Brasil e desapropriação de terras de agricultores locais.

Na Bélgica, a empresa  faz aço inoxidável a partir de sucata, e sua fábrica no Brasil produz o chamado aço “verde”. A companhia justifica o termo verde por utilizar a queima da biomassa de eucalipto em seus altos-fornos em vez do 'coque', material mais poluente e de origem fóssil. Seria a sua atividade tão verde quanto afirmam?

A empresa Aperam cultiva o eucalipto para a produção de energia utilizada nos processos industriais de siderurgia do aço. O monocultivo é realizado em área de Cerrado, bioma com grande biodiversidade natural, onde as plantas e animais são adaptados aos longos períodos de seca na região.

Até podemos aplaudir o fato da Aperam querer produzir aço 'verde', mas não à custa das pessoas e da natureza. Por isso, pedimos aos bancos que assumam sua responsabilidade e sejam mais críticos em relação às ambições verdes da Aperam. 

Bancos e gestores de ativos na Bélgica investiram 600 milhões de euros na Aperam nos últimos cinco anos . Destaca-se em particular o BNP Paribas, com 297 milhões de euros em empréstimos e investimentos. Além deste,  o ING também financiou a Aperam com 159 milhões de euros, KBC com 62 milhões de euros,  Deutsche Bank com 58 milhões de euros e Argenta com 9 milhões de euros. 

Enquanto esses bancos não exigirem melhorias da empresa, eles contribuirão para a escassez de água, desapropriação de terras e perda de biodiversidade no Cerrado brasileiro.