Por pressão do GBR, bancos suecos colocam Shell e Renault contra parede

16 setembro 2019

Em recente reviravolta na Suécia, grandes empresas mudaram suas práticas de sustentabilidade após pressão dos principais bancos do País

 

Em junho de 2015, o Guia dos Bancos Responsáveis (GBR) na Suécia - em cooperação com a Anistia Internacional - divulgou o relatório “Investimentos irresponsáveis”, revelando que os 7 principais bancos suecos investiam o dinheiro de seus clientes em empresas com envolvimento em violações de direitos humanos.

Duas dessas empresas são bem conhecidas dos brasileiros. A Renault comprava para a bateria de seus carros cobalto de minas na República Democrática do Congo (RDC) que utilizavam trabalho infantil e condições perigosas de trabalho.  A outra empresa é a Shell, cuja exploração de petróleo no Delta do rio Níger, na Nigéria, gerou efeitos na saúde de duas gerações de nigerianos devido à devastadora poluição crônica.

O GBR da Suécia informou aos bancos que repetiria o estudo em 2017, para medir melhorias em suas políticas e práticas em relação aos direitos humanos. Em grande parte devido à pressão de saber que voltariam a ser analisados ​​novamente, os bancos na Suécia começaram a reconsiderar seriamente as empresas nas quais investem.

Mudança nas instituições financeiras

Desde a publicação do relatório inicial, os sete maiores bancos da Suécia adotaram medidas para garantir investimentos responsáveis, por exemplo, empregando especialistas em questões de Meio Ambiente, Social e Governança (ESG) e excluindo empresas que violam os direitos humanos.

Além disso, os bancos Handelsbanken e SEB, que são o segundo e o terceiro maiores do país respectivamente, colocaram a Shell numa lista negra. Ou seja, ela só receberia novos investimentos caso amenizasse o impacto de suas atividades na sociedade. Naquela época, a Shell era a empresa que mais recebia investimentos desses dois bancos. O Grupo SEB também colocou a Renault na lista negra, juntamente com a T-Mobile, empresa de telefonia europeia que proibiu os funcionários de discutir salários entre si.

Esses movimentos dos bancos suecos mostram claramente que a corrida pelas melhores práticas, como pretendida pelo GBR, é eficaz para motivar os bancos a melhorar. Além da mudança em relação a empresas específicas, o Handelsbanken e o SEB melhoraram significativamente suas notas de direitos humanos, passando de 28 para 75% e de 66 para 74%, respectivamente. Saiba a nota dos bancos brasileiros neste tema aqui.

Outro banco pressionado na Suécia, o Danske Bank, também fez melhorias significativas em suas políticas de direitos humanos. O banco agora exige que as empresas prestem atenção especial aos direitos de mulheres e crianças e que tenham políticas e mecanismos sólidos de saúde e segurança para lidar com disputas trabalhistas com sindicatos.

Mudanças concretas

Além das políticas aprimoradas dos bancos, desde 2015 houve mudanças notáveis ​​nas políticas e práticas das empresas nas quais os bancos investia. Em 2017, a Shell incorporou os direitos humanos em suas políticas, sistemas e processos de negócios e alegou que aprimorou seu sistema de resposta e remediação a derramamentos de óleo. 

Além disso, foi lançado o Programa de Limpeza e Restauração de Ogoniland, região afetada pelo derramamento de petróleo no Rio Níger. O Governo da Nigéria e as petrolíferas cooperaram para lançar essa iniciativa de restauração ambiental que beneficia os ecossistemas e o povo da região.

Da mesma forma, em setembro de 2018, a Renault adotou uma política ativa de compras sustentáveis, abrangendo o respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas. Também lançou um plano de ação no mesmo ano para lidar com o risco de direitos humanos na cadeia de suprimentos de cobalto, passando a  divulgar sua lista de fornecedores nessa e comprometendo-se a realizar cinco auditorias nos fornecedores.

E o Brasil?

Histórias similares à da Nigéria e da RDC acontecem também por aqui – como é o caso do rompimento da barragem de Brumadinho e a continuidade do trabalho escravo no país. 

Entretanto, para que haja mudança efetiva é preciso que os consumidores utilizem seu poder de voz. O GBR permite que todos pressionem seu banco por melhores práticas no financiamento de empresas e nas suas operações internas. 

Outras histórias de impacto como essa foram reunidas no livro digital “Stories of Change”, disponível gratuitamente no site do GBR Internacional (somente em inglês). Para outros exemplos em português, clique aqui

Além disso, os consumidores têm cada vez mais voz ativa nas redes sociais, o que também obriga as empresas a solucionar problemas com mais rapidez. No Brasil, o GBR disponibiliza uma série de conteúdos especiais em canais como o Facebook e Twitter. Não deixe de nos seguir por lá e pressionar as empresas em nossos posts!