COVID 19 – Aumentando a desigualdade mundo afora
Já é muito claro como a pandemia de coronavírus está afetando a nossa forma de levar a vida, já que muitos de nós estamos nos adaptando às novas restrições de ir e vir e de associação. A pandemia já deixou milhares de mortos e sistemas de saúde sobrecarregados, mas também trouxe consequências econômicas que resultaram em perda de emprego, fechamento de negócios e fuga de capitais.
Esses impactos estão sendo sentidos mais intensamente pelas pessoas que vivem na linha da pobreza ou abaixo dela, e por trabalhadores informais, da saúde, ativistas, refugiados e imigrantes, dentre outros. Essa dura realidade não só ressalta as profundas desigualdades na nossa sociedade, mas também a forte conexão entre o mundo corporativo e o sistema financeiro. Isso porque as decisões tomadas de um lado do mundo levaram a sofrimento para o restante do planeta.
Nós também precisamos reconhecer que há pressões no meio ambiente geradas pela produção em larga escala de matéria-prima e alimentos para exportação. E também lembrar a importância de proteger a biodiversidade e mitigar riscos de zoonoses pandêmicas, como a Covid-19, contendo a produção animal em escala industrial e a comercialização de animais da floresta.
Enquanto governos e empreendimentos respondem à pandemia, uma combinação de medidas emergenciais, ações políticas e oportunismo flagrante levou a violações de direitos humanos, supressão de direitos civis e desrespeito a padrões de responsabilidade ambiental e social. Há uma grande preocupação de que o vírus esteja sendo utilizado para justificar abusos econômicos, sociais e ambientais.
Qual o papel do setor financeiro?
Após a crise financeira global de 2008, foram os cidadãos comuns, pagadores de impostos, que bancaram o salvamento do setor financeiro e que levaram o ônus da lenta recuperação econômica. Assim, ficou claro quanto prejuízo pode ser causado por um setor financeiro focado exclusivamente no lucro e que opera sem o devido controle.
A pandemia de coronavírus está causando um caos econômico e muito da dor que ele gera está sendo sentida pelas pessoas em países de renda média, como o Brasil, e em desenvolvimento com grandes dívidas. Estes países estão sofrendo com a especulação e depreciação de suas moedas, preços mais baixos de matéria-prima, desarranjo de seus mercados financeiros e venda de títulos e ações devido à fuga de capitais de investidores do exterior.
Partes do setor financeiro estão exacerbando a crise econômica pela qual passamos ao fazer negócios especulativos, reforçando a volatilidade no mercado de ações e permitindo a evasão de capital para paraísos fiscais. Essas práticas surgem em meio às pressões causadas pelo maior desemprego e perda das condições essenciais de subsistência devido à pandemia.
De quais ações nós precisamos?
O Guia dos Bancos Responsáveis Internacional (Fair Finance Guide International) demanda que governos, reguladores, instituições financeiras e empresas trabalhem conjuntamente em prol de um mundo mais justo, igualitário e resiliente, particularmente neste momento em que a pandemia de Covid-19 está sendo usada para justificar oportunismo político e corporativo, em detrimento da responsabilidade social e ambiental.
- Nós demandamos práticas responsáveis do setor financeiro perante a crise, inclusive evitando o comércio especulativo de moeda e matéria-prima.
- Nós demandamos uma regulação coordenada do setor para que instituições financeiras e seus acionistas não se utilizem dos pacotes econômicos emergenciais para lucrar indevidamente como resultado da crise.
- Nós esperamos que o setor financeiro se responsabilize por impactos sociais, de gênero e ambientais nas suas carteiras de investimentos e ativos; que parem de investir em negócios poluentes ou empresas que violem os direitos humanos; e que aumente os recursos destinados ao financiamento de tecnologias de energia limpa, redução das emissões de GEEs (gases do efeito estufa), e proteção e regeneração de ambientes naturais e biodiversos.
O que o GBR Internacional está fazendo?
Somos uma rede global operando na Ásia, Europa e América e investigamos, tornamos público e avaliamos as políticas e práticas de investimento do setor financeiro no mundo todo. Também realizamos campanhas e ações de influência para que as instituições financeiras se tornem mais responsáveis, transparentes e sustentáveis.
Nós publicamos um ranqueamento das políticas de sustentabilidade das insituições financeiras, investigamos casos de práticas danosas, mobilizamos a população e trabalhamos com atores do setor financeiro para garantir a adoção e cumprimento de padrões e práticas que não prejudiquem a sociedade.
Nós acreditamos que uma crise pode criar oportunidades para mudanças. O setor financeiro pode dar um passo à frente e ter papel preponderante na recuperação econômica após a pandemia.
- Nós vamos pressionar as instituições financeiras para que prestem contas sobre suas responsabilidades socioambientais - particularmente quando algumas veem essa crise como oportunidade para abandoná-las.
- Nós continuaremos monitorando as ações de bancos, fundos de pensão e seguradoras de perto, e tornaremos suas práticas conhecidas pela sociedade.
- Nós advogaremos e orientaremos sobre os caminhos responsáveis e sustentáveis de agora em diante.
O que o GBR no Brasil está fazendo?
O Idec, organização que executa o GBR no Brasil, enviou um ofício ao Ministério da Economia e ao Banco Central com os seguintes pedidos:
- Exigir que as instituições financeiras não se utilizem dos pacotes emergenciais para geração de lucro, e sim para socorrer a população impactadas pela crise na saúde e economia;
- Definir novas regras para a revisão do saldo do cheque especial a ser parcelado, a fim de não onerar os consumidores que tiverem redução na renda;
- Adotar a revisão da taxa de juros com base na Selic para o parcelamento das faturas de cartão de crédito e saldo a vencer, pelo prazo equivalente ao período de pausa concedida às demais linhas de crédito voltadas para a população impactada pelas medidas econômicas; ;
- Ampliar as medidas adotadas pelos 5 maiores bancos do país para todas as instituições de crédito;
- Definir as regras para a suspensão dos contratos: se é pausa ou suspensão pontual, se a taxa de juros se mantém;
- Permitir que os contratos de crédito consignado do setor privado sejam suspensos por 60 dias como os demais e, havendo a redução de salário em função da jornada de trabalho reduzida, permitir que os contratos sejam revistos proporcionalmente.
- Deve ser objeto de revisão da margem de desconto os contratos de crédito consignado de servidores públicos que forem submetidos à redução proporcional de jornada e salário;
- Estabelecer uma pausa no pagamento das parcelas do crédito consignado pelo período de 60 dias para os aposentados e pensionistas do INSS;
- Não adotar medidas de aumento da margem de consignação e prazo de pagamento nas operações de crédito consignado do INSS, visando a redução do endividamento das famílias e da exploração dos idosos;
- Reforçar a fiscalização dos contratos de crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS, com a proibição da prática de venda casada de seguros prestamistas e combater o assédio das instituições financeiras na oferta abusiva de crédito.
O que você pode fazer?
- Busque sempre informação de fontes confiáveis.
- Nos sigas nas redes sociais para se atualizar sobre nossas ações. Facebook | Twitter | Instagram | Linkedin
- Envie um e-mail ao seu banco, utilizando o botão vermelho abaixo, demandando que ele invista responsavelmente para que a crise não gere ainda mais pobreza, desigualdade e degradação ambiental.
- Ajude as outras pessoas a fazer o mesmo compartilhando nossa mensagem nas mídias sociais.
Esta é uma nota do Fair Finance Guide International, rede da qual o GBR faz parte. Conheça mais sobre as ações nos outros 10 países da rede no rodapé desta página.