quinta-feira, 2 de abril de 2020
Já é muito claro como a pandemia de coronavírus está afetando a nossa forma de levar a vida, já que muitos de nós estamos nos adaptando às novas restrições de ir e vir e de associação. A pandemia já deixou milhares de mortos e sistemas de saúde sobrecarregados, mas também trouxe consequências econômicas que resultaram em perda de emprego, fechamento de negócios e fuga de capitais.
Esses impactos estão sendo sentidos mais intensamente pelas pessoas que vivem na linha da pobreza ou abaixo dela, e por trabalhadores informais, da saúde, ativistas, refugiados e imigrantes, dentre outros. Essa dura realidade não só ressalta as profundas desigualdades na nossa sociedade, mas também a forte conexão entre o mundo corporativo e o sistema financeiro. Isso porque as decisões tomadas de um lado do mundo levaram a sofrimento para o restante do planeta.
Nós também precisamos reconhecer que há pressões no meio ambiente geradas pela produção em larga escala de matéria-prima e alimentos para exportação. E também lembrar a importância de proteger a biodiversidade e mitigar riscos de zoonoses pandêmicas, como a Covid-19, contendo a produção animal em escala industrial e a comercialização de animais da floresta.
Enquanto governos e empreendimentos respondem à pandemia, uma combinação de medidas emergenciais, ações políticas e oportunismo flagrante levou a violações de direitos humanos, supressão de direitos civis e desrespeito a padrões de responsabilidade ambiental e social. Há uma grande preocupação de que o vírus esteja sendo utilizado para justificar abusos econômicos, sociais e ambientais.
Após a crise financeira global de 2008, foram os cidadãos comuns, pagadores de impostos, que bancaram o salvamento do setor financeiro e que levaram o ônus da lenta recuperação econômica. Assim, ficou claro quanto prejuízo pode ser causado por um setor financeiro focado exclusivamente no lucro e que opera sem o devido controle.
A pandemia de coronavírus está causando um caos econômico e muito da dor que ele gera está sendo sentida pelas pessoas em países de renda média, como o Brasil, e em desenvolvimento com grandes dívidas. Estes países estão sofrendo com a especulação e depreciação de suas moedas, preços mais baixos de matéria-prima, desarranjo de seus mercados financeiros e venda de títulos e ações devido à fuga de capitais de investidores do exterior.
Partes do setor financeiro estão exacerbando a crise econômica pela qual passamos ao fazer negócios especulativos, reforçando a volatilidade no mercado de ações e permitindo a evasão de capital para paraísos fiscais. Essas práticas surgem em meio às pressões causadas pelo maior desemprego e perda das condições essenciais de subsistência devido à pandemia.
O Guia dos Bancos Responsáveis Internacional (Fair Finance Guide International) demanda que governos, reguladores, instituições financeiras e empresas trabalhem conjuntamente em prol de um mundo mais justo, igualitário e resiliente, particularmente neste momento em que a pandemia de Covid-19 está sendo usada para justificar oportunismo político e corporativo, em detrimento da responsabilidade social e ambiental.
Somos uma rede global operando na Ásia, Europa e América e investigamos, tornamos público e avaliamos as políticas e práticas de investimento do setor financeiro no mundo todo. Também realizamos campanhas e ações de influência para que as instituições financeiras se tornem mais responsáveis, transparentes e sustentáveis.
Nós publicamos um ranqueamento das políticas de sustentabilidade das insituições financeiras, investigamos casos de práticas danosas, mobilizamos a população e trabalhamos com atores do setor financeiro para garantir a adoção e cumprimento de padrões e práticas que não prejudiquem a sociedade.
Nós acreditamos que uma crise pode criar oportunidades para mudanças. O setor financeiro pode dar um passo à frente e ter papel preponderante na recuperação econômica após a pandemia.
O Idec, organização que executa o GBR no Brasil, enviou um ofício ao Ministério da Economia e ao Banco Central com os seguintes pedidos:
Esta é uma nota do Fair Finance Guide International, rede da qual o GBR faz parte. Conheça mais sobre as ações nos outros 10 países da rede no rodapé desta página.
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